Quando era menor havia um programa de tv muito famoso onde uma pessoa sorteada ficava dentro de uma pequena sala, com os ouvidos completamente tapados e com a visão limitada do auditório onde o programa se passava. O apresentador indicava um prêmio de cada vez para o participante e este, sem ver e escutar, ia optando entre trocar o prêmio que já possuía por outro, dizendo sim ou não. Como o participante não tinha noção do que já havia ganho, não sabia se deveria trocar o prêmio, passando a contar com muita sorte para ter um resultado final positivo. Era impressionante como víamos absurdos. Pessoas trocavam carros por brinquedos, eletrodomésticos caros por chocalhos ou petecas, aquilo era muito engraçado, pois as bobagens que as pessoas faziam eram enormes e quando elas saiam, muitas vezes, saiam com berilos, cotonetes ou bobagens para crianças. Nós ríamos bastante, mas imagino o quanto aquelas pessoas deviam ficar chateadas, a final depois de serem sorteadas e terem na mão grandes prêmios, jogavam fora e recebiam uma piada como recompensa.
Lembro-me muito deste programa quando começo a refletir sobre as opções que fazemos na vida. A vida é muito rápida e há muitas distrações que podem nos encantar, acontece que as escolhas que fazemos quase sempre são irreversíveis e irreparáveis, e não há justificativas que façam isto mudar. A vida não tem um serviço de atendimento ao cliente – SAC onde possamos nos dirigir e ali abrir a boca e reclamar ou exigir outra escolha ou troca ou seja lá o que quereríamos fazer. Escolheu, está escolhido, fez está feito, não tem como apagar ou refazer, você pode até fazer de outra forma em outro momento de sua vida, mas naquela hora, aquela escolha jamais poderão mudar. Não há botão del, nem botão desfaz na vida. Isto se deve por duas principais variáveis que compõem a existência: o tempo e a nossa memória.
O tempo faz com que nada volte ou retroceda. Não há pausas ou paradas ou recomeços. Ao iniciar nosso processo de vida no ventre de nossa mãe, jamais pararemos, ou melhor, estaremos sempre indo para algum lugar que escolhemos, ainda que esta escolha não seja objetiva ou clara, ao existir já estamos escolhendo. Eu escolhi estar escrevendo isto agora, este instante que estou aqui não voltará e não tenho como vivê-lo novamente, e se isto já não bastasse, terei que viver todas as consequências do fato de estar agora escrevendo estas palavras, por exemplo, poderia estar assistindo um filme, ou lendo um livro ou fazendo minhas orações, mas não, decidi estar aqui lhe escrevendo, assim, abri mão de outras coisas e como consequência, não terei aqueles momentos em minha vida, mas causo em sua vida os efeitos das minhas palavras e receberei de todas aqueles pessoas que as lerem uma resposta direta ou indireta e não tenho como evitar isto mais. Está feito. Parece-me que as leis de Newton também faz algum sentido em nossa humanidade, pois para toda ação existe uma reação, existe uma consequência que teremos a viver. E quando isto passa por nossa memória, então tudo ganha uma amplitude inimaginável. Nós já entendemos que não funcionamos como computadores, portanto aquilo que gravamos em nossa memória não exige um comando para salvar, já está sendo salvo tudo aquilo que vivemos em todos os nossos cinco sentidos e em nossas três dimensões, quais sejam: tato, olfato, paladar, visão e audição, quanto sentidos, e corpo, mente e espírito, quanto dimensões. Acontece que aquilo que nossa memória grava, de alguma forma, passa a fazer parte de nós e não temos como controlar isto, pois a grande maioria das coisas passa a ocupar nosso subconsciente e nosso inconsciente, e só temos domínio em nosso consciente. Vale ressalvar que mesmo assim, poucas pessoas tem o melhor domínio de seu consciente, mas isto é outro assunto. Muito daquilo que sonhamos é conteúdo de memória inatingível pela razão, inclusive o fenômeno deja vu é uma destas expressões de nossa memória inconsciente ou subconsciente.
Longe de mim querer que você entre em paranoia com isto. Contudo, precisamos dar melhor qualidade a nossas escolhas, cuidar melhor de nossa vida e ter noção mais precisa daquilo que estamos fazendo e que consequências podem ter. Escuto inúmeras pessoas reclamando da vida e de seus tantos problemas, atingindo tão fortemente seus sentimentos e os de outros, jamais se dando conta que a maioria daquilo que está vivendo hoje é consequência daquilo que vem escolhendo no decorrer de sua história. É melhor não querer tanto punir os culpados por nossos problemas, pois, se formos honestos conosco e com os outros, os condenados seremos nós mesmos.
A vida é muito mais dura que aquele programa. Tenho visto homens e mulheres cheios de vida, pessoas felizes e cheias de Deus serem apagadas por suas escolhas mal pensadas, são relacionamentos escravizantes por carência afetiva, vivência de atos fora de seu tempo, falta de “não” e muitos “sim” ou muitas exclamações e pouquíssimas interrogações. Tem pessoas que não comungam mais, não rezam mais, não buscam mais Deus para viverem certas coisas que suas consciências bem indicam que não convivem com a vida que o próprio Deus lhes deu. Ainda me pergunto como as pessoas chegam a dizer que não sabem o que fazer, quando nossa própria razão tão bem alerta os melhores caminhos em nossa consciência, isto é marca indelével em nós, seres humanos, basta escutar a razão que nos indica e não a sedução que nos engana. Lembrei-me agora de certa esposa que já escutei reclamando do esposo e dizendo que sua vida estava destruída por aquele homem, e ainda: por que Deus fez isto comigo? Minha resposta para aquela mulher é que foi ela mesma quem o escolheu, não Deus, portanto assuma suas escolhas e redirecione sua vida na responsabilidade e não em reducionismos dialéticos. Da vontade de perguntar: por que você fez isto com você mesma?
O câncer veio pelo cigarro que foi escolhido para fumar, a cirrose pelo primeiro gole que não se para mais, a mágoa pelo perdão que se decide não viver, a inimizade pelo orgulho que veneramos, o medo pela falta da verdade de saber quem se é... Há muitos caminhos, mas apenas um foi feito para nós, a questão é saber se estamos nele.
Também não adianta se lamentar pelo que fez de errado ou que não foi tão bom assim. Assuma seus tropeços, peça perdão a quem deve pedir, reconheça a necessidade de mudar, faça de Deus seu melhor amigo e olhe adiante. Em minha vida, evito caminhos onde o Senhor não estará comigo, não que não tenha errado, errei muito, mas justamente por isto aprendi boas lições, pois as derrotas tem uma capacidade de educar que apenas os sábios têm em suas vitórias. Não queira mais agradar as pessoas e muito cuidado com seus mimos, nós sabemos o que este faz as crianças, imagine então o que pode fazer conosco, pessoas adultas. Troca ou não troca? É a sua vida que está em jogo, então para onde você quer ir?
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