Matriz Buenos Aires

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terça-feira, 3 de junho de 2014

Ser inteligente

Ser inteligente. Diferente de toda outra criatura, somos seres pensantes, inteligentes e inteligíveis. Não meramente criaturas, mas também criadores e capazes de fazer uma análise profunda e rebuscada daquilo que conhecemos, inclusive ir em busca daquilo que não conhecemos. O ser humano é muito acima de qualquer outro ser existente e sua grande diferença se encontra na capacidade de pensar. Somos pensantes. Você é um ser inteligente. E por que estou insistindo tanto neste óbvio? Acontece que muito embora saibamos disto, isto seja bastante claro, tenho para mim que muitos dos nossos problemas se encontram justamente na negação de pensar, de usar a inteligência como se precisa e se deve.
Há um blecaute nas luzes de nossa inteligência. Quando uma situação difícil se apresenta, normalmente reagimos de formas instintivas, como quem tira a mão do fogo para não se queimar. Acontece que nem toda situação problema é uma mão no fogo que simplesmente reagimos e tiramos da ameaça, então fica tudo resolvido. Ocorrem situações que exigem ação muito mais que reação, e aquilo que o ser humano faz em seus atos de melhor é pensar antes de agir. Torna-se inexplicável como somos tão agressivos com as pessoas que melhor cuidam de nós e nos amam. Há alguma razão para isto? Talvez a raiz esteja em que não pensamos tão bem quanto precisaríamos para aprofundar e melhorar nossas relações. Se estou passando pela rua e alguém meramente lança uma saudação em minha direção, imediatamente respondo involuntariamente, sem qualquer comprometimento. No entanto, quando estou diante de pessoas cujo valor a minha existência é elevado, necessito lhes dar a atenção e o cuidado devido e, porque não dizer, justo. Acontece que, embora isto seja mais uma vez óbvio, por muitas vezes damos maiores atenções àqueles que pouca, ou nenhuma, atenção dão a nós. Seria isto racional? Onde está, portanto, ficando nossa inteligência nisto tudo? Se ao menos fossemos mais racionais no falar e no como falar. No agir e no como agir. Peço por um instante que observe como fala com as pessoas, como trata as pessoas importantes de sua vida, como cuida daqueles que ama? Quando os problemas abatem suas relações, como cuida para resolver da melhor forma? Ou reage? Sabe o que está fazendo ou meramente faz, sem qualquer pensar no que se vai chegar? Cuidado! Tenho visto pessoas maravilhosas perderem outras em sua vida pelo fato de pensar menos do que o necessário. Quem pensa cuida melhor, tem maior oportunidade de ser por inteiro, de dar melhor de si, sem exigir nada em troca. Quem usa sua inteligência é em si mesmo, sem querer ser nada além, mas sem reduzir nada a menos. Há quem diga que ser inteligente é ser soberbo, que bobo, soberbo é aquele que não permite que sua inteligência lhe evidencia suas próprias limitações e deficiências, passando a acreditar naquilo que efetivamente não é, mas negando a capacidade de crescer em suas próprias fraquezas. 

Ser por inteiro. Sem o controle dos medos, mas tendo-os em seu domínio. Homens e mulheres escravos do medo pela infelicidade de se negar a pensar. Podem passar uma vida inteira tratando dóceis cordeiros como graves dragões, ou cuidando cascavéis como simples animais de estimação. Quando se nega a inteligência, naturalmente, nega-se toda a razão e a capacidade de contrair pensamentos lógicos, passando a construir ideias debilitantes e irreais, vivendo em um mundo de irrealidades. Quando você diz que não consegue fazer algo, é por que não possui as capacidades ou por que não acredita nelas? Portanto, o que lhe tira a fé em si mesmo talvez seja a negação de pensar suas reais dimensões quanto pessoa. Nas situações mais diversas da vida, pense antes de qualquer outra coisa e, pesando, encontre os melhores caminhos, pois a cegueira maior não são as dos olhos, mas a da inteligência.

domingo, 1 de junho de 2014

Mente que mente

Ilusões das ilusões. Falar de ilusões é falar de mágica, daquilo que é real e não é ao mesmo tempo, pois não conseguimos acompanhar com nossos olhos. Aquilo que nos engana os sentidos, porque estes não conseguem captar a realidade daquilo que se apresenta. Não conseguir captar a realidade daquilo que se apresenta é precisamente o que me parece acontecer com muitas pessoas em tempos de euforia copista. Uma mágica parece se apresentar diante de nós, uma experiência inebriante, uma fato espetacular cujo espetáculo nem sei se merece este nome. O fato é que a FIFA mais uma vez vem apresentar sua Copa, agora em terrenos brasileiros, ainda em terras cuja miséria e a igualdade de vida não estão em patamares aceitáveis, mas cuja inteligência de seu povo acredita ser algo elevadamente importante de alguma forma. Inteligência? É, alguém disse que sim.
O maior evento do mundo. E é? Não é. O maior evento do mundo não é a Copa do Mundo da FIFA, tampouco apresenta o melhor do futebol, pois quem acompanha os melhores clubes do mundo sabe que ali está realmente o melhor desta arte. Mas isto pouco importa, pois quando o produto desenvolvido é a ilusão, a verdade pode ficar em segundo plano, ao menos para aqueles que adentram o mundo maravilhoso da FIFA. Parece que todos os problemas estarão plenamente resolvidos pelo mero acontecimento deste evento, ou pela vitória de sua seleção, ou por qualquer outro motivo cuja a lógica seja deixada de lado. Fala-se muito de retorno para o país sede, entretanto, como toda boa conta de somar e subtrair, quando nos investimentos se gasta mal, a corrupção impera e os números são facilmente adulterados, como saber o que de fato foi gerado e quem foram os beneficiados disto tudo? Ainda que benefícios tivessem ocorridos, é apenas um evento e como todo evento, chega, acontece e passa, vai embora. Tudo continuará ali da mesma forma, não haverá mágica. Olho minha cidade e não consigo encontrar muita coisa além de muita destruição e obras mal acabadas faltando dez dias para a FIFA passar por aqui, mas as pessoas estão completamente embriagadas de um sonho, de um ópio inebriante cuja realidade está criada em suas mentes e suas mentes passam a ser a mais pura realidade, ainda que seus sentidos digam não. Mente que mente. É como alguém que dirige seu automóvel em direção ao buraco, seus olhos indicam o perigo, mas sua mente prefere não enxergar aquela situação para não estragar a experiência, o maravilhoso prazer de dirigir aquele fantástico carro. A ilusão logo acabará e não gostaria de lhe ver dentro do buraco.

Não quero que deixe de saborear a arte futebolística. Jamais, não é isto que desejo lhe dizer. O que venho evidenciar é que não sejamos surreais, não sejamos escravos das ilusões destes tempos, mas usemos nossa inteligência para aproveitar aquilo que pode ser bom, sem deixar de entender como andam as coisas, assumir nossas responsabilidades e cuidar daquilo que verdadeiramente importa. Então, o que realmente importa em sua vida? Dê a eles o melhor de si, pois a Copa passará e eles não.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Inteligência Relativa

Alguém precisa fazer isto com certa urgência. É necessário que alguém informe os mais diferentes tipos de seres, coisas ou fenômenos que eles não são aquilo que deveriam ser, não precisam se comportar como naturalmente seria, inclusive porque não se sabe mais, nestes dias de hoje, aquilo que é de fato natural. Você é natural? Qual sua natureza? Seria você, meu caro leitor, um ser humano ou outra espécie viva? E por favor não se ofenda, apenas quero lhe ajudar a se definir como ser existente ou não, uma vez que talvez você seja, mas não exista, ou exista sem ser, ao menos, humano. Acredito bastante em sua verdadeira estranheza ao que escrevo neste momento, mas apenas estou expressando aquilo que a relativização pode fazer com nossa inteligência. Quando tudo pode ser tudo, inclusive nada, toda e qualquer base conceitual, conhecimento ou verdade, por mais simples que seja, perde qualquer valia em todos os sentidos. Já não existem parâmetros, sejam eles quais forem, para chegar a qualquer conclusão minimamente plausível ou até racional, portanto, caminhamos de forma rígida para a absoluta perda da capacidade de pensar, em outras palavras, quando se relativiza a verdade, conceitos e conhecimentos, vai-se perdendo a capacidade de compreender e se ganha uma irracionalidade doentia, pois passa-se a negar o óbvio, em detrimento das capacidades cognitivas, a fim de negar a própria essência do objeto, ser ou fenômeno. 
Sim, alguém precisa dizer a água que ela não molha. O fogo precisa tomar conhecimento de que ele não queima, a não ser que passe a ser opção de alguém que tenha este poder de caraterizar a natureza. E quem teme este poder? Quem? Se você negar o divino, então a pergunta ficará ainda mais difícil. Faz-se necessário alguém que informe novas opções a tudo que existe, ajudando também a compreensão do que é existir, a fim de que o cachorro possa saber de deve latir ou miar. Parece absurdo a seu ver? Mas quando um ser humano em pleno desenvolvimento no útero de uma mulher não é compreendido como ser existente a ponto de permitir sua mais terrível eliminação, mas um ovo de tartaruga é visto como ser tão vital que se alguém ameaçar o ovo terá sua devida penalidade, então estamos diante do absurdo ou não? Mas o que é o absurdo? Desde minha infância fui educado a jamais entrar nos toaletes femininos, pois ali, assim aprendi, é o ambiente de intimidade das mulheres, não cabendo a presença de homem, e vice-versa, também o banheiro masculino deve ser respeitado enfim. O tempo passou e as verdades se foram como pó ao vento e sexo passou a ser opção, bem, se é opção então passem a fazer toaletes para todos os sexos passíveis de opção a fim de que minha privacidade seja respeitada, bem como daqueles que dizem ter feito sua opção, mas não invadam a intimidade alheia. A coisa passa a ser tão irracional que as ideias que apresento para você ganham um caráter de completa perda de parâmetros, você já conjecturou, em sua inteligência, um shopping com banheiros para homens heterossexuais, homens bissexuais, homens homossexuais, mulheres… Onde então iríamos chegar com tamanho raciocínio? 

Apesar de ser no mínimo estranho, estou sendo muito simplista. As questões mais graves e delicadas não seria capaz de entrar sem passar dias inteiros desenvolvendo todo pensamento necessário, e talvez o faça, entretanto, peço sua inteligência emprestada para que pense nas bases mais tenebrosas que estamos lançando em nossa segurança, nossos direitos e deveres, na saúde e no desenvolvimento tecnológico, e, principalmente, em nossas famílias e na educação de nosso pequeninos e indefesos filhos. Pense um pouco nos reais absurdos que se aproximam de nós quando abrimos mão de pensar e adotar verdades absolutas como natureza, por exemplo. Afrontar a natureza humana, em minha visão, é um dos maiores riscos que passamos a correr. Não é apenas dizer a lei da gravidade que o peso não é uma força, mas dizer a um coração que não bata, mas respire, ou às pernas que não caminhem, mas enxerguem. É fazer do ser humano, em sua total complexidade, objeto de experiências monstruosas, no lugar de estudar e buscar soluções para comportamentos e situações que simplesmente não compreendemos ainda. Isto não seria adotar a incompetência como êxito obtido? Ou optar pelo caminho mais fácil e cômodo do ósseo apenas para não admitir as enormes dificuldades que precisamos enfrentar? É, talvez seja muito mais fácil cruzar os braços e assistir a isto tudo, porém já estão entrando pelas menores brechas de nossas casas ainda que não queiramos. Estão logo ali na tv, nos jornais, nos livros, nos quadrinhos e parece que em tudo que temos o mínimo de contato, onde a omissão não nos defenderá de nada, pelo contrário, faz de cada um de nós cúmplices e defensores úteis destas ideias mortais. A omissão é o ato de injetar o veneno letal nas veias daqueles que mais amamos, inclusive em nós mesmos.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Amor Efetivo é Amor de Cruz

Caro leitor, não sei qual sua crença religiosa nem sei se acredita ou não em Deus. Muito embora entenda a grandiosa relevância de Deus na vida humana, saiba que de mim terá sempre o respeito e a busca da compreensão sobre suas convicções. Falo do divino e sua revelação a nós justamente por estarmos, nós cristãos católicos, a refletir nestes tempos sobre a paixão, morte e ressurreição daquele que, para nós, é a encarnação de Deus, ou seja, Deus que se faz homem na pessoa de Jesus para libertar a humanidade do pecado e de toda espécie de mal que a aflige. Entretanto, ainda que não tenha qualquer fé nesta revelação, Jesus, religioso ou não, traz-nos uma elaborada reflexão para nosso amadurecimento e crescimento, e é com o objetivo de maturar nossas ideias que escrevo nesta hora.
Voltar nosso olhar para o Jesus crucificado é enxergar efetivamente aquilo que denominamos de amor. Diante de uma sociedade hedonista e egocêntrica, onde a busca da partilha parece se fazer apenas para faxinar a consciência de nossos lixos e muitos excessos, onde os encontros servem como abastecimento insaciável de um prazer centralizado nos próprios delírios e fantasias, quando amar é tudo menos amor e aprendemos a dizer qua amamos a tudo menos o próximo, pois este está tão próximo que me espelha a mais profunda incapacidade de querer bem, pois a palavra amor se torna descabida. Nesta hora, nestes tempos, hoje, olhar para o Crucificado passa a ser a grande luz de alerta que a humanidade não sabe amar. Jesus pendendo no madeiro traspassa nossa alma perguntando se de fato há amor em nós, pois aquele que não sabe perder não sabe amar, aquele que não sabe morrer muito menos saberá perdoar e quem não perdoa pode fazer de tudo um pouco, menos amar. Obviamente que o exemplo apresentado por Jesus em sua paixão e morte é único e o mais elevado, no entanto, não podemos encobrir nossa baixeza pela grandeza apresentada por Ele, pelo contrário, precisamos entender que perdemos a direção do amor faz muito tempo, pois amor não é satisfazer-se, não é para si, mas primeiro para aquele mais próximo, para aquele desprezado que não tem como pagar um ato de bondade ou ainda aquele que esquecemos pelo caminho e passamos como se não existisse. Quem são estas pessoas em sua vida? Quem é este tão próximo, mas que seu olhar encontra as nuvens, mas não encontra ele? Quem são os que precisam de você e que não têm como retribuir a sua bondade?

Bondade. O amor é bom, mas e eu sou bom? Esta é uma boa perguntar para perceber o quanto o amor habita em nós. O amor é paciente, será que somos pacientes? O amor é fiel, e será que somos fieis? O amor é misericordioso e será que somos misericordiosos? É fato, o Crucificado vem nos apresentar inúmeras virtudes que caracterizam o amor, a pessoa que ama. Diante de cada uma destas virtudes se faz necessário um questionamento próprio e pessoal cuja resposta indicará o nosso amor ou a simples constatação de sua triste ausência. E é justamente na ausência do amor que a morte vai encontrando espaços em nossa existência, a amargura vai ganhando cômodos de nossa alma e o desafeto se instala em nossas relações. Não seria, portanto, isto a morte? Se você concorda comigo que se encontra nesta situação a morte espiritual ou mental, como queira o leitor, então iremos concluir que a força propulsora da ressurreição é justamente o amor que não se faz estático na dor e no se doar, mas atravessa a noite mais escura para iluminar esta mesma noite e questionar as trevas, onde está tua vitória? Morte onde estais? É desta forma que o amor vem nos dizer que se nossas pegadas não se fazem semeadura de vida é porque são sementes de morte. Dura realidade, mas não menos real. O princípio da ressurreição é plantar em vida amor efetivo para que, quando não habitarmos mais estas terras, possamos habitar as terras do Amor, sendo perpetuados, ainda que para aqueles menos crentes ou onde a fé inexiste, por suas almas marcadas, tocadas, perfumadas pelos aromas do amor. Olhando para o Cristo Jesus, deixemo-nos tocar pelo amor para que nossas famílias, pais, filhos, cônjuges, irmãos e amigos sejam marcados pelos perfumes do nosso amor. Seja lá onde sejamos, sejamos espelho do Jesus Crucificado.

terça-feira, 1 de abril de 2014

50 de 64 - A ditadura velada

            Querido leitor, neste dia tão marcante para a história brasileira, sinto-me impelido a fazer alguns importantes comentários. Foi um período muito triste de nossa história, pois a violência tomou espaço. Em muitos lugares de nosso país, sabemos de situações onde a violência foi levada a extremos e a dignidade humana foi esquecida. No entanto, quando falamos deste período, damos extremada atenção às ações dos militares, pois foram aqueles que tomaram o poder público, passando a dirigir o Brasil, porém precisamos fazer justas e necessárias colocações quanto a isto. Travou-se nas terras brasileiras uma verdadeira guerra civil em busca do poder, da direção do país, portanto, se houve uma guerra é porque haviam dois lados opostos, de um lado os militares com suas bases tradicionais e impelidos através das marchas pela família a fim de que não ganhasse espaço o comunismo que já operava em grandes países do mundo com fortes regimes ditatoriais e opressão popular, dizem ainda que apoiados pelos Estados Unidos me virtude da Guerra Fria. Do outro lado, admiradores e defensores do mesmo regime comunista em voga naquele momento na União Soviética, em Cuba e na China, entre outros como já disse, verdadeiras guerrilhas aos moldes de Che Guevara cujo objetivo era a implantação do comunismo nas terras tupiniquins. Violência, torturas e estupides dos dois lados, desrespeito a vida humana de ambos os lados, pois não houve inocentes e, o mais importante, ambos levariam a uma ditadura. Ou seria os militares, como foi por vinte e um anos, ou seriam os comunistas que na União Soviética durou mais de oitenta anos, ou que até hoje governa países como Cuba.
            Ditadura é ditadura seja lá qual for o regime, seja lá qual for a gente. A retirada da liberdade humana, a opressão e o desrespeito a dignidade da pessoas, e a violência como base para manter o poder é inaceitável para qualquer ideologia política ou base social de organização, seja lá quem for. Se a ditadura militar no Brasil foi inaceitável e uma ofensa ao cidadão brasileiro, não seria menor uma ditadura comunista, como é até este exato momento a ditadura comunista em Cuba cuja violência e o desrespeito a seus cidadãos já supera em muito aquilo que nós brasileiros vimos acontecer em nossa história. Não podemos nos iludir com os discursos vazios que tomam nossa mídia e nossa atenção neste dia, pois a grande maioria daqueles que batem no regime militar iniciado em 1964, são enérgicos defensores da outras ditaduras, de outras formas de opressão e redução dos direitos civis. Lembremos que o governo federal, nestes últimos dez anos de poder, já tentou retomar a censura de outras formas menos latentes, é um grande admirador público do governo de Fidel e mostrou profundo diálogo e defesa de posturas autoritárias e irresponsáveis como o de Mahmoud Ahmadinejad no Irã. O que acontece, querido brasileiro, é que aquela guerra civil terminou, mas não se resolveu muito bem. Aqueles que mais batem na ditadura militar, são os maiores defensores e admiradores de outras ditaduras, defensores de outras violências como as de Guevara e outras opressões como as de Fidel e de Stalin. Não há absolutamente nada de bom em nenhuma delas, são ditaduras e oprimem a liberdade humana, isto é fato, mas o que também é fato é que aqueles que elegemos nos últimos anos têm noutras ditaduras suas referencias ideológicas e de poder. Estaríamos nós combatendo ditaduras ou votando nelas?
            Gostaria ainda de mencionar um outro aspecto relevante. É indiscutível que os métodos de toda ditadura são inaceitáveis, pois é quando o Estado assume para si a violência como via de controle de seus cidadãos e de sua sociedade. Entretanto, é de si pensar que nos dias atuais, em terrenos brasileiros, a violência, inclusive também aplicada e utilizada pelo Estado, é muito maior que aquelas dos anos de ditadura militar. Longe de mim querer defender qualquer tipo de violência, porém, não podemos ficar as cegas, como crianças inocentes, a combater apenas violência e desumanização de outrora, e aceitar as aberrações que vivemos em nossas cidades, pois hoje se tortura mais, se mata mais, se rouba mais, se violenta mais... Hoje, sem os militares a quase trinta anos, a violência em nada diminuiu, pelo contrário, só aumentou em volume e em requintes de crueldade, inclusive nas formas de protestar, como acompanhamos desde meados de 2013. Precisamos pensar melhor em nossa história, naquilo que fazemos para que tenha verdadeira relevância para o futuro de nossos filhos e não apenas repetir as palavras ocas daqueles que estão a espreita da primeira oportunidade de implantar seu poder opressor. Pois, pelo que entendo, quando se instala uma unanimidade em torno de seja lá quem for, como aquelas euforias hitlerianas, passando-se a perseguir qualquer opinião contrária, já tem instalada uma ditadura velada. A diferença talvez seja o bigodinho de um, e a barba de voz rouca do outro, ou apenas uma questão de tempo.

             

sábado, 29 de março de 2014

Na direção certa.

            Para um verdadeiro cristão, há um importante termômetro. Sim, uma medida que nos indica se estamos realmente no caminho correto, trilhando as pegadas do Senhor, ou criando nossas próprias e convenientes estradas. É comum dizermos que as coisas estão indo bem, quando os problemas se vão, nos sentimos fortalecidos e alegres, ou ainda quando a conta bancaria engorda junto com um bom emprego, sempre tudo acompanhado de uma boa saúde. São de fato coisas muito boas em si mesmas, principalmente na perspectiva dos tempos que passamos por aqui, nesta terra. Longe de mim querer desprezar qualquer conquista ou reduzir a importância de buscarmos uma situação o sempre melhor por aqui, entretanto, não podemos fazer destes sinais, sinais da graça divina ou da sua benção na vida de uma ou outra pessoa, pois assim, estaremos determinando quem é fiel a Deus pela conta bancaria ou coisas ainda muito piores. Menos ainda podemos afirmar que direcionamos nosso caminho para o Eterno a partir destas coisas estarem ou não em nossas vidas.
            Como dizia, há um bom termômetro. Uma bussola que nos aponta se estamos na direção o correta ou não. Talvez a melhor forma de responder esta pergunta é se estamos lutando por sermos homens e mulheres melhores, e quando digo melhores refiro-me a capacidade sempre maior de amar e se deixar amar. Se temos morrido para nossa mesquinhez  nosso egoísmo e prepotência, nossa vaidade doentia, em favor de compreender mais, cuidar melhor, perdoar e buscar perdão, dar sem esperar algum retorno, ser sem precisar de reconhecimento algum. Diante de sua leitura de cada um destes pontos, acredito que lhe venha um sentimento de grande dificuldade em realizar cada uma destas melhoras, cada um destes pontos de crescimento, e esta dificuldade, esta luta, inclusive esta batalha mais interior que nos indica estarmos ou não na direção o correta. Se não for difícil saiba que o caminho provavelmente está errado, não é por aí. E antes que meu amado leitor fique bravo comigo, desejo apenas trazer-lhe  algumas referências bíblicas, que espero não ser uma atentado a sua racionalidade, mas apena para facilitar-lhe a compreensão. Lembre-se de que não é o servo maior que o Senhor e que o caminho do Senhor passou por uma calvário para nos libertar, há também um calvário a ser trilhado por cada um de nós a fim de acolhermos devidamente a libertação em nossas vidas, pois a frase mais dita a cada pecador que Ele encontrou pelo caminho foi, vai e não peques mais, portanto, vamos?

            Se está difícil é porque está no caminho. Muito provavelmente é mesmo por aí, principalmente se quando olha para trás consegue enxergar bons frutos deixados pelo caminho, entenda, a semente plantada que germina o bom fruto só é devidamente regada pela lágrima bem derramada, sem esta boa água, sem este legítimo soro, a semente pode ficar pelo caminho. Assim, Ele fez primeiro para que a lição fosse dada, como dito no Evangelho de João, no capítulo onze: deixei-vos o exemplo para que façais vós o mesmo. Não reclame se o caminho está tão difícil, esta é uma grande garantia de que seus passos não são em vão.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Por que ruge o leão?

É no mínimo uma pergunta interessante. Pensar nela como uma filosofia animal é meramente diminuí-la, e muito menos desejo compreender ou desenvolver qualquer tipo de zoopsicologia. Não, jamais. Pretendo sim fazê-lo pensar um pouco comigo: por que ruge o leão? Por que rosna o cachorro? Escutei diversas explicações por estes dias: porque é um animal. Ou, porque está bravo ou coisa parecida. Nenhuma resposta errada, mas como estamos acostumados a levar tudo em nossas vidas, não com sensibilidade necessária, com a profundidade que me faz pensar.
Um animal rosna por se sentir ameaçado. Mediante sua fraqueza ou vulnerabilidade, o animal emite se som de ira a fim assustar a ameaça ou aquilo que acredita ser uma ameaça, muito embora, por vezes, não é de fato. Como quando um criador se aproximar para medicar seu animal, este não compreende a ação do homem e o ameaça com seus rosnados. Jamais devemos perder de vista que se trata de um animal, um ser irracional e mediante nossa inteligência, fraco. É a forma que ele tem para se defender, proteger-se daquilo cuja compreensão não possui. Não podemos fazer qualquer juízo do animal que age desta forma e, a esta altura, contando com a honestidade do meu leitor, você já deve já deve estar se questionando e não entende a direção que precisamos tomar, por isto, não vou mais me delongar a chegar ao ponto. Partindo de que compreendemos claramente a ação animal, portanto, pergunto-lhe: por que os seres humanos rosnam? Sim! Por que nós, seres inteligentes e racionais, rosnamos e latimos como feras ferozes diante de outros seres humanos, que talvez, e só talvez, estejam fazendo o mesmo? Assim, como os irracionais, qual fragilidade estamos querendo esconder? Que ameaça desejamos espantar de nossa presença? O que queremos esconder com nossa agressividade e nosso gritos ofensivos?
Parece-me deveras claro que fenômeno bastante semelhante acontece entre os seres humanos e os animais. Ambos, do seu jeito, ameaçam aquilo que julgam ser uma ameaça e com isto apresenta sua forma própria de assustar. Se os animais rosnam ou rugem, nós gritamos, fazemos muito barulho, quebramos e até batemos para afugentar aquilo que é minha fraqueza. Entretanto, só nós, pessoalmente, acreditamos que as pessoas não conhecem nossas fragilidades, que os outros não conhecem aquilo que carregamos tão arduamente dentro de nós, como um peso de ser aquilo que não se deseja, na mais profunda incapacidade de enxergar a grandeza que se é realmente. Normalmente, aquilo que tanto tentamos esconder se torna aquilo que obviamente é nossa fraqueza maior. Aquilo que você tanto deseja esconder, existe um grupo de pessoas que já conhecem muito bem e tanto mais intimas são de você, maior será o conhecimento. E talvez, e só talvez, conheçam bem melhor que você mesmo. Portanto, faça um bem a sua alma, pare de se esconder, acolha sua intimidade mais profunda e deixe ela lhe conduzir a sua grandeza e sua miséria, será o caminho mais honesto e mais libertador de sua vida.


quinta-feira, 20 de março de 2014

O que importa é amar?

                Hoje pela manhã me deparei mais uma vez com esta expressão: o que importa é amar. Mais uma vez minha mente respondeu: e é? Mas o que é amar? Em tempos muito estranhos, onde se perdeu a noção real das coisas e se relativizou por completo os conceitos e as experienciais. Onde os fatos são sujeitos a ideologias e não as ideologias aos fatos. Onde as pessoas destorcem as realidades para que melhor se adequem a seus desejos e interesses, pergunto com muita tranquilidade: o que é amar? Seria amar contrariar os limites fisiológicos de uma pessoa para que esta se adaptasse aos interesses de outrem, com ou sem consentimento? Amar seria viver dependente de tudo aquilo que fizesse sentir prazer ou suprir seus desejos, ainda que de outras pessoas? Não estaríamos falando de vícios ou desequilíbrios? Onde ficaria o respeito?

                Respeito – fundamento do amor. Onde não há respeito, haveria amor? Quando tratamos de respeito, focamos de imediato o respeito mutuo, pessoa por pessoa, ser respeitado e respeitar. Entretanto, antes de ir ao encontro do outro é necessário se encontrar consigo mesmo, reconhecer-se e se respeitar. Quando há respeito a si mesmo, estaremos bem mais próximos do amor próprio, e se não sou capaz de amar a mim mesmo, o que darei então aos outros? Amor? Não creio que uma pessoa possa dar amor a outro se de fato este amor não habita primeiro sua própria intimidade, sua própria autoimagem, quem ela é diante de si mesma. O que também caberia ao respeito. Cabe, portanto, mais algumas boas indagações: você se respeita? Respeita os limites do seu corpo e de sua alma? O que tem feito com você guarda o respeito? Se as respostas que vêm são não, talvez seja o momento de questionar o amor em sua vida. Fazemos muitas coisas que acreditamos ser por amor e no amor, mas se não encontramos respeito naquilo, muito menos encontraremos amor. Por outro lado, precisamos compreender que respeito não é fazer tudo aquilo que temos vontade, isto é egocentrismos. Quem passa a vida fazendo apenas aquilo que quer jamais deixará de ser criança, passará uma vida infantilizada e infantilizante – a expressão é minha. Nem tudo que queremos ou desejamos é bom ou proveitoso, e tão logo começamos a enfrentar a vida encontramos escolhas a serem feitas e decisões a serem tomadas. Escolher algo sempre será abrir mão de outro. Portanto, não é porque desejo que ter seria respeitar, pelo contrário, o respeito passa pelo bem, fazer o bem, construir e não destruir. Assim, se fazer aquilo que desejo é edificante, então há respeito naquele ato, mas, do contrário, se destrói, não haverá respeito, não haverá amor. Ou seria de desejos que vive o amor?

sexta-feira, 7 de março de 2014

Há um milagre... (parte I)

                Há um milagre todo especial. O retorno da morte à vida ganha o nome de ressurreição e o entendemos como fato milagroso. Obviamente a morte a que estamos nos referindo é a morte do corpo, os sinais vitais se vão, a respiração sessa e se apresenta um quadro irreversível dos sentidos fisiológicos humanos. Mas e quando morremos por dentro? Quando é a nossa alma que está morta, e não o nosso corpo, isto é menos morte? Algumas vezes questionei a meus alunos e a diversos públicos que tive o prazer de conviver, qual seria a dor mais forte, a da alma ou a do corpo, e jamais obtive qualquer resposta contrária a esta: a da alma. Ora, se a dor mais contundente é a da alma, por que então não seria morte o falecimento da alma? Bem, não entrarei no mérito da questão científica, mas sei que cada pessoa que me ler agora e que já passou por uma tristeza profunda ou que conheceu males da alma, como a depressão, por exemplo, irá entender muito bem a que estou me referindo, pois perder qualquer razão de existir e direcionar sua vida para o nada é de fato morrer sem jamais deixar de respirar. Toda e qualquer chance de se sair desta situação é recebida não menos como uma ressurreição. E não seria?

                Olhar os olhos humanos negros e sem brilho é de fato olhar a morte. Pessoas que passam a vida mendigando atenção e afeto, mas que de fato aspiram o amor, se subjugando e se jogando no lixo, permitindo toda e qualquer condição para receber alguma sobrevida a seu vazio mais profundo. Perder a luz do sorriso, ele não vem mais aos lábios e quando parece estar lá, realmente é apenas o disfarce para receber uma miserável moeda de atenção, ou simplesmente o desejo se sentir vivo. Vivo? Quando se passa a ser pelo que outros pensam ou acham, vende-se a dignidade para receber um afago ou a ilusão do cuidado, sendo de fato a troca pelo gozo fugaz que nos lança no terreno das ilusões e devaneios. Criamos um mundo de fantasias e quando nos deparamos com a realidade, já não estamos mais em nós mesmos, já não vivemos uma vida, somos o personagem, objeto de diversão, para aqueles que acreditávamos nos querer bem, descobrindo que somos, na realidade, um bem na prateleira de seus objetos de uso pessoal. E não adianta culpá-los por isto, pois somos nós mesmos que damos a infeliz permissão para que façam de nós aquilo que querem, quando querem e como querem. Perdemos qualquer senso de sobrevivência, não é isto uma forma de vender a alma? Vazio, solidão, tristeza... Desesperança. O corpo, ainda que respirando, recebe as consequências disto tudo, são chamadas de doenças psicossomáticas, parece um comando ao corpo de que a vida já não é tão bem vinda. Se a alma indica sua morte, estaria dizendo ao corpo que ele não tem mais valor? Ou, a alma, em doença grave, indica ao corpo sua debilidade? Parece-me que os fatos caminham nesta direção, no entanto, somos impedidos de uma conclusão mais cartesiana. Porém, não temo em errar, pois no momento em que chegamos a este nível, conclui-se uma morte interior que pede por uma ressurreição, ares que inflem os pulmões da alma, sangue novo ao coração da existência. Não estamos falando de um milagre? O milagre que retorna a vida total do ser, pois não é a alma maior que o corpo? Então posso dizer que tenho passado a vida vendo grandes e maravilhosos milagres. A beleza retomar o rosto desfigurado pela máscara das ilusões.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ela (parte I)

                Sendo Deus perfeitíssimo em tudo. Sendo Deus a própria Sabedoria e o Amor em pessoa. Ele sendo o Poder, a Justiça e a Bondade, doce criador do mais belo e incomparavelmente superior a todas as criaturas, onde o cosmo em sua infinitude misteriosa cabe na ponta de seu dedo menor – comparação desproporcional e meramente figurativa, pois de fato as proporções da realidade do Eterno não encontram palavras justas à sua grandiosidade e as formas se perdem ao descrevê-Lo. Ele, Misericórdia, mediante nós miseráveis e mesquinhos, encontro do Tudo e do nada, Universo e verme, soma de todos os sóis e a poeira. Pois o Tudo decidiu restabelecer o nada, torná-lo de volta a sua dignidade, o Amor queria o amado, ainda que este fosse a pior das criaturas, esta não poderia permanecer em sua ignorância, perdida ate de si mesma, pois sem a Luz, as trevas ganham o lar da alma humana. Quando Ele veio ao nosso encontro para plenificar nossa existência, tirar-nos da vida medonha, Ele, que jamais erra e sabe o melhor dos planos, procurou por onde. Como poderia se fazer a mais plena dignificação da humanidade? Como retomá-los de volta a grandeza de sua criação e restaurar o lugar de filhos? Como fazê-los entender que o mal não são eles, não está em sermos humanos, mas na corrupção que entrou em sua existência? Criados na perfeição, não é a criação o problema, mas o mal que adentrou as artérias da alma humana. Como fazê-los entender que eles são a obra prima e não a deformação? A pessoa é amada, os males que faz não. Parece-me que isto era um ato impossível e improvável de realizar, não havia como responder tais perguntas e prová-las, entretanto, sim, era para nós impossível, para Ele jamais. Sendo Deus, sabia como: se tornaria um igual, humano como todos, comum em tudo, exceto na corrupção. Mostraria que sendo Deus em sua Majestade não se tornaria menor ao ser homem, pelo contrário, o ser humano é tão pleno e superior na criação divina que pode conter Deus sem deixar de ser todo humano. Todo Deus e todo homem. Deus e homem, uma só pessoa.

                Mas como? Ser homem exige nascer de uma mulher, ser amamentado, ter uma mãe... ser filho. Como? Mais uma vez nossa cegueira nos ataca e não nos permite mais nada de saber, apenas a ignorância de nossas elucubrações inferiores que não atingem a perfeição de Sua Sabedoria. Saber o quê? Talvez seja esta a sua pergunta? Saber antes de tudo que Deus é Deus, assim, se Ele faz é porque é o melhor, o certo e o caminho a ser trilhado por cada um de nós que o buscamos. Não há outro caminho, esta foi sua escolha. Pois quando a Misericórdia se lança ao encontro do ser humano é porque encontra um lar propicio a seu habitar. Como habitar um lar imperfeito? Poderia o Tudo ser plenamente na imperfeição humana a ponto de nascer de uma morada corrompida, corruptível e corrompedora? Claro que não. Jamais. E nem pense nisto. Deus encontrou graça, Ele criou na perfeição aquEla para Ser. Em seu poder, que usa como lhe apraz, na salvação vindoura cujo tempo não é, mas já é antes mesmo de ser, o eterno permanece sempre, muito antes de existir aquilo que já passou. Ele trouxe a Graça para fazer nEla a perfeição necessária para ser sua Mãe, precisaria de uma Mãe para que todos entendam sempre que ser mãe é tão elevado na existência humana que até Deus precisou de uma ao se fazer homem. No entanto, sendo Mãe de Deus, Ele A faz superior a outro ser humano qualquer, infinitamente inferior a Majestade Divina, pois a humanidade sem o pecado se torna íntima de seu Deus. Com Ela foi assim, não menos Mãe do Homem-Deus em toda natureza materna, ao mesmo tempo, totalmente viva em seu Pai Criador por não ter mais qualquer barreira que Os distanciem. No entanto, Deus se faz seu Filho, Deus-Homem. Todo Deus se faz homem em tudo. Cada homem tem uma mãe, portanto, para ser homem e resgatar a dignidade humana, é necessário fazê-lo plenamente, vindo de uma mulher, mas se é Deus quem ali nascerá, precisa ser única. Ela conterá a divindade em seu ventre e, de sua carne, Deus receberá seu corpo e seu sangue. Corpo e sangue puros só podem vir da mais perfeita pureza – conterá Deus Perfeitíssimo. Não se tira água pura de poço contaminado e esta é a Sabedoria Perfeitíssima de Deus. Ele só poderá ser homem se fosse por aquela Mulher. E o tempo, conjugação dos verbos, nisto tudo, perde sentido e poder, e aquilo que será, já é para o vindouro já ter acontecido por Ela. Ela, no poder Altíssimo, possibilita o Verbo se fazer carne e, tendo habitado primeiro nEla, habita entre nós.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Obediência - quando o silêncio fala. (última parte)

                Eu tenho um grande amigo chamado silêncio. A obediência me apresentou a ele e com eles aprendi a tomar minhas próprias decisões, pois a obediência não exime do pensar nem lhe tira esta obrigação, mas ensina a fazê-lo. O silêncio me conduz pelo terreno no qual preciso ter o melhor domínio, eu mesmo. Não posso ter partes de mim que não aceite ou não ame ou simplesmente não cuide. Apenas no silêncio posso escutar a mim mesmo, perceber-me e conhecer-me, se não tenho um bom relacionamento com este amigo, terei algum problema comigo mesmo. Pelas mãos me conduz a terrenos não antes explorados cuja distancia inexiste, porque está aqui, logo aqui, em mim. Nos barulhos e nas confusões do dia a dia não é nada fácil dar o melhor espaço para quem sou, qualquer coisa me distrai e me tira de mim mesmo, do meu melhor e me joga em minhas rebeldias e minhas revoltas. Uma louca perdida na alma, consequência de minha mais profunda incapacidade de dirigir a mim mesmo. Quem é incapaz de se conduzir, jamais será capaz de dirigir qualquer outra coisa ou situação, pois está perdido em suas terras, não se encontrará nas terras alheias. É assim, bem assim que funciona, é nossa natureza. O silêncio é o melhor guia neste maravilhoso trajeto, no entanto, assusta-nos, põe-nos medo e bastante medo. Não deveria ser desta forma, mas o é, porque travamos uma infeliz luta, batalhamos noite e dia contra nós mesmos, contra quem somos e buscando impor o papel de ser quem não somos. Daí, o silêncio ganha voz, gestos e até face, e o que diz pode não ser tão agradável, pois fala do eu e para aqueles que estão em batalha consigo, acolher e cuidar daquilo que o silêncio trata pode não ser tão fácil. Indisciplina consequente de uma vida com discreta obediência e incapacidade de tratar sobre assuntos que desagradam. Acostumado a fazer apenas o que deseja, vamos perdendo a capacidade de mergulhar em águas mais profundas, jamais aprendemos a nadar nestes mares, inclusive, tornamo-nos preguiçosos no esforço de crescer e adquirir músculos que não atrofiam com o tempo, pois o saber jamais se atrofia. Pois é. Aqui chegamos ao ponto onde a obediência nos faz pessoas vivas, fortes e sábias. Pessoas inteiras e não em partes, pois aprendemos e acolhemos o mais intimo de nós mesmos pela voz do silêncio. Passamos a ser donos de nossas terras, aprendendo a conquistar nossos espaços pelas luzes que a obediência nos concede na voz do silêncio. O silêncio nos educa sobre nossas verdadeiras forças e como, respeitando nossos limites, podemos acolher a Sabedoria que vai muito além de nós, mas sem a obediência, o silêncio não vem, somos rebeldes e ignoramos aquilo que não sabemos, pois nem mesmo sabemos quem somos.

                Pare por um segundo. Obedeça. Permita que o silêncio lhe seja apresentado, olhe sua amplitude e o encare, olhos nos olhos. Agora abra seus ouvidos e escute o melhor de si mesmo, já está em você. Não precisa ir procurar fora. A rebeldia virá para os desacostumados a cuidar destes assuntos, mas então a obediência lhe apresentará outra grande amiga, amiga também do silêncio. Muito prazer em conhecer a senhora disciplina.