Matriz Buenos Aires

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terça-feira, 3 de junho de 2014

Ser inteligente

Ser inteligente. Diferente de toda outra criatura, somos seres pensantes, inteligentes e inteligíveis. Não meramente criaturas, mas também criadores e capazes de fazer uma análise profunda e rebuscada daquilo que conhecemos, inclusive ir em busca daquilo que não conhecemos. O ser humano é muito acima de qualquer outro ser existente e sua grande diferença se encontra na capacidade de pensar. Somos pensantes. Você é um ser inteligente. E por que estou insistindo tanto neste óbvio? Acontece que muito embora saibamos disto, isto seja bastante claro, tenho para mim que muitos dos nossos problemas se encontram justamente na negação de pensar, de usar a inteligência como se precisa e se deve.
Há um blecaute nas luzes de nossa inteligência. Quando uma situação difícil se apresenta, normalmente reagimos de formas instintivas, como quem tira a mão do fogo para não se queimar. Acontece que nem toda situação problema é uma mão no fogo que simplesmente reagimos e tiramos da ameaça, então fica tudo resolvido. Ocorrem situações que exigem ação muito mais que reação, e aquilo que o ser humano faz em seus atos de melhor é pensar antes de agir. Torna-se inexplicável como somos tão agressivos com as pessoas que melhor cuidam de nós e nos amam. Há alguma razão para isto? Talvez a raiz esteja em que não pensamos tão bem quanto precisaríamos para aprofundar e melhorar nossas relações. Se estou passando pela rua e alguém meramente lança uma saudação em minha direção, imediatamente respondo involuntariamente, sem qualquer comprometimento. No entanto, quando estou diante de pessoas cujo valor a minha existência é elevado, necessito lhes dar a atenção e o cuidado devido e, porque não dizer, justo. Acontece que, embora isto seja mais uma vez óbvio, por muitas vezes damos maiores atenções àqueles que pouca, ou nenhuma, atenção dão a nós. Seria isto racional? Onde está, portanto, ficando nossa inteligência nisto tudo? Se ao menos fossemos mais racionais no falar e no como falar. No agir e no como agir. Peço por um instante que observe como fala com as pessoas, como trata as pessoas importantes de sua vida, como cuida daqueles que ama? Quando os problemas abatem suas relações, como cuida para resolver da melhor forma? Ou reage? Sabe o que está fazendo ou meramente faz, sem qualquer pensar no que se vai chegar? Cuidado! Tenho visto pessoas maravilhosas perderem outras em sua vida pelo fato de pensar menos do que o necessário. Quem pensa cuida melhor, tem maior oportunidade de ser por inteiro, de dar melhor de si, sem exigir nada em troca. Quem usa sua inteligência é em si mesmo, sem querer ser nada além, mas sem reduzir nada a menos. Há quem diga que ser inteligente é ser soberbo, que bobo, soberbo é aquele que não permite que sua inteligência lhe evidencia suas próprias limitações e deficiências, passando a acreditar naquilo que efetivamente não é, mas negando a capacidade de crescer em suas próprias fraquezas. 

Ser por inteiro. Sem o controle dos medos, mas tendo-os em seu domínio. Homens e mulheres escravos do medo pela infelicidade de se negar a pensar. Podem passar uma vida inteira tratando dóceis cordeiros como graves dragões, ou cuidando cascavéis como simples animais de estimação. Quando se nega a inteligência, naturalmente, nega-se toda a razão e a capacidade de contrair pensamentos lógicos, passando a construir ideias debilitantes e irreais, vivendo em um mundo de irrealidades. Quando você diz que não consegue fazer algo, é por que não possui as capacidades ou por que não acredita nelas? Portanto, o que lhe tira a fé em si mesmo talvez seja a negação de pensar suas reais dimensões quanto pessoa. Nas situações mais diversas da vida, pense antes de qualquer outra coisa e, pesando, encontre os melhores caminhos, pois a cegueira maior não são as dos olhos, mas a da inteligência.

domingo, 1 de junho de 2014

Mente que mente

Ilusões das ilusões. Falar de ilusões é falar de mágica, daquilo que é real e não é ao mesmo tempo, pois não conseguimos acompanhar com nossos olhos. Aquilo que nos engana os sentidos, porque estes não conseguem captar a realidade daquilo que se apresenta. Não conseguir captar a realidade daquilo que se apresenta é precisamente o que me parece acontecer com muitas pessoas em tempos de euforia copista. Uma mágica parece se apresentar diante de nós, uma experiência inebriante, uma fato espetacular cujo espetáculo nem sei se merece este nome. O fato é que a FIFA mais uma vez vem apresentar sua Copa, agora em terrenos brasileiros, ainda em terras cuja miséria e a igualdade de vida não estão em patamares aceitáveis, mas cuja inteligência de seu povo acredita ser algo elevadamente importante de alguma forma. Inteligência? É, alguém disse que sim.
O maior evento do mundo. E é? Não é. O maior evento do mundo não é a Copa do Mundo da FIFA, tampouco apresenta o melhor do futebol, pois quem acompanha os melhores clubes do mundo sabe que ali está realmente o melhor desta arte. Mas isto pouco importa, pois quando o produto desenvolvido é a ilusão, a verdade pode ficar em segundo plano, ao menos para aqueles que adentram o mundo maravilhoso da FIFA. Parece que todos os problemas estarão plenamente resolvidos pelo mero acontecimento deste evento, ou pela vitória de sua seleção, ou por qualquer outro motivo cuja a lógica seja deixada de lado. Fala-se muito de retorno para o país sede, entretanto, como toda boa conta de somar e subtrair, quando nos investimentos se gasta mal, a corrupção impera e os números são facilmente adulterados, como saber o que de fato foi gerado e quem foram os beneficiados disto tudo? Ainda que benefícios tivessem ocorridos, é apenas um evento e como todo evento, chega, acontece e passa, vai embora. Tudo continuará ali da mesma forma, não haverá mágica. Olho minha cidade e não consigo encontrar muita coisa além de muita destruição e obras mal acabadas faltando dez dias para a FIFA passar por aqui, mas as pessoas estão completamente embriagadas de um sonho, de um ópio inebriante cuja realidade está criada em suas mentes e suas mentes passam a ser a mais pura realidade, ainda que seus sentidos digam não. Mente que mente. É como alguém que dirige seu automóvel em direção ao buraco, seus olhos indicam o perigo, mas sua mente prefere não enxergar aquela situação para não estragar a experiência, o maravilhoso prazer de dirigir aquele fantástico carro. A ilusão logo acabará e não gostaria de lhe ver dentro do buraco.

Não quero que deixe de saborear a arte futebolística. Jamais, não é isto que desejo lhe dizer. O que venho evidenciar é que não sejamos surreais, não sejamos escravos das ilusões destes tempos, mas usemos nossa inteligência para aproveitar aquilo que pode ser bom, sem deixar de entender como andam as coisas, assumir nossas responsabilidades e cuidar daquilo que verdadeiramente importa. Então, o que realmente importa em sua vida? Dê a eles o melhor de si, pois a Copa passará e eles não.