Há
um milagre todo especial. O retorno da morte à vida ganha o nome de
ressurreição e o entendemos como fato milagroso. Obviamente a morte a que
estamos nos referindo é a morte do corpo, os sinais vitais se vão, a respiração
sessa e se apresenta um quadro irreversível dos sentidos fisiológicos humanos. Mas
e quando morremos por dentro? Quando é a nossa alma que está morta, e não o
nosso corpo, isto é menos morte? Algumas vezes questionei a meus alunos e a
diversos públicos que tive o prazer de conviver, qual seria a dor mais forte, a
da alma ou a do corpo, e jamais obtive qualquer resposta contrária a esta: a da
alma. Ora, se a dor mais contundente é a da alma, por que então não seria morte
o falecimento da alma? Bem, não entrarei no mérito da questão científica, mas sei
que cada pessoa que me ler agora e que já passou por uma tristeza profunda ou
que conheceu males da alma, como a depressão, por exemplo, irá entender muito
bem a que estou me referindo, pois perder qualquer razão de existir e
direcionar sua vida para o nada é de fato morrer sem jamais deixar de respirar.
Toda e qualquer chance de se sair desta situação é recebida não menos como uma
ressurreição. E não seria?
Olhar
os olhos humanos negros e sem brilho é de fato olhar a morte. Pessoas que
passam a vida mendigando atenção e afeto, mas que de fato aspiram o amor, se
subjugando e se jogando no lixo, permitindo toda e qualquer condição para
receber alguma sobrevida a seu vazio mais profundo. Perder a luz do sorriso,
ele não vem mais aos lábios e quando parece estar lá, realmente é apenas o disfarce
para receber uma miserável moeda de atenção, ou simplesmente o desejo se sentir
vivo. Vivo? Quando se passa a ser pelo que outros pensam ou acham, vende-se a
dignidade para receber um afago ou a ilusão do cuidado, sendo de fato a troca
pelo gozo fugaz que nos lança no terreno das ilusões e devaneios. Criamos um
mundo de fantasias e quando nos deparamos com a realidade, já não estamos mais
em nós mesmos, já não vivemos uma vida, somos o personagem, objeto de diversão,
para aqueles que acreditávamos nos querer bem, descobrindo que somos, na
realidade, um bem na prateleira de seus objetos de uso pessoal. E não adianta culpá-los
por isto, pois somos nós mesmos que damos a infeliz permissão para que façam de
nós aquilo que querem, quando querem e como querem. Perdemos qualquer senso de sobrevivência,
não é isto uma forma de vender a alma? Vazio, solidão, tristeza... Desesperança.
O corpo, ainda que respirando, recebe as consequências disto tudo, são chamadas
de doenças psicossomáticas, parece um comando ao corpo de que a vida já não é
tão bem vinda. Se a alma indica sua morte, estaria dizendo ao corpo que ele não
tem mais valor? Ou, a alma, em doença grave, indica ao corpo sua debilidade?
Parece-me que os fatos caminham nesta direção, no entanto, somos impedidos de
uma conclusão mais cartesiana. Porém, não temo em errar, pois no momento em que
chegamos a este nível, conclui-se uma morte interior que pede por uma
ressurreição, ares que inflem os pulmões da alma, sangue novo ao coração da
existência. Não estamos falando de um milagre? O milagre que retorna a vida
total do ser, pois não é a alma maior que o corpo? Então posso dizer que tenho
passado a vida vendo grandes e maravilhosos milagres. A beleza retomar o rosto desfigurado
pela máscara das ilusões.
Nós, a que o Senhor decidiu ressuscitar a alma, entendemos bem de suas dores... e de quão baixo o ser humano pode descer para mitigar essa dor e adiar ou disfarçar essa morte da alma por que não lembra de olhar para o rosto do Amor...
ResponderExcluirQuando se toma consciência de quão baixo se chegou em busca dessa tal "vivacidade", o primeiro sentimento é raiva por todos que contribuíram para o falecimento da alma. Depois vem o rancor de si próprio por ter se entregado a ilusão e a esses devaneios.
ResponderExcluirRemédios, terapias e etc, dão a falsa ilusão de que a alma está ressuscitando, porém, no silêncio da noite, sente-se o vazio. No íntimo de si mesmo, vem a certeza de que a alma permanecerá morta.
Ainda bem que conhecemos a Solução, o único Ressuscitador de almas o qual nos estendeu a mão e ofereceu seu perfeito amor.