Matriz Buenos Aires

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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Obediência - quando o silêncio fala. (última parte)

                Eu tenho um grande amigo chamado silêncio. A obediência me apresentou a ele e com eles aprendi a tomar minhas próprias decisões, pois a obediência não exime do pensar nem lhe tira esta obrigação, mas ensina a fazê-lo. O silêncio me conduz pelo terreno no qual preciso ter o melhor domínio, eu mesmo. Não posso ter partes de mim que não aceite ou não ame ou simplesmente não cuide. Apenas no silêncio posso escutar a mim mesmo, perceber-me e conhecer-me, se não tenho um bom relacionamento com este amigo, terei algum problema comigo mesmo. Pelas mãos me conduz a terrenos não antes explorados cuja distancia inexiste, porque está aqui, logo aqui, em mim. Nos barulhos e nas confusões do dia a dia não é nada fácil dar o melhor espaço para quem sou, qualquer coisa me distrai e me tira de mim mesmo, do meu melhor e me joga em minhas rebeldias e minhas revoltas. Uma louca perdida na alma, consequência de minha mais profunda incapacidade de dirigir a mim mesmo. Quem é incapaz de se conduzir, jamais será capaz de dirigir qualquer outra coisa ou situação, pois está perdido em suas terras, não se encontrará nas terras alheias. É assim, bem assim que funciona, é nossa natureza. O silêncio é o melhor guia neste maravilhoso trajeto, no entanto, assusta-nos, põe-nos medo e bastante medo. Não deveria ser desta forma, mas o é, porque travamos uma infeliz luta, batalhamos noite e dia contra nós mesmos, contra quem somos e buscando impor o papel de ser quem não somos. Daí, o silêncio ganha voz, gestos e até face, e o que diz pode não ser tão agradável, pois fala do eu e para aqueles que estão em batalha consigo, acolher e cuidar daquilo que o silêncio trata pode não ser tão fácil. Indisciplina consequente de uma vida com discreta obediência e incapacidade de tratar sobre assuntos que desagradam. Acostumado a fazer apenas o que deseja, vamos perdendo a capacidade de mergulhar em águas mais profundas, jamais aprendemos a nadar nestes mares, inclusive, tornamo-nos preguiçosos no esforço de crescer e adquirir músculos que não atrofiam com o tempo, pois o saber jamais se atrofia. Pois é. Aqui chegamos ao ponto onde a obediência nos faz pessoas vivas, fortes e sábias. Pessoas inteiras e não em partes, pois aprendemos e acolhemos o mais intimo de nós mesmos pela voz do silêncio. Passamos a ser donos de nossas terras, aprendendo a conquistar nossos espaços pelas luzes que a obediência nos concede na voz do silêncio. O silêncio nos educa sobre nossas verdadeiras forças e como, respeitando nossos limites, podemos acolher a Sabedoria que vai muito além de nós, mas sem a obediência, o silêncio não vem, somos rebeldes e ignoramos aquilo que não sabemos, pois nem mesmo sabemos quem somos.

                Pare por um segundo. Obedeça. Permita que o silêncio lhe seja apresentado, olhe sua amplitude e o encare, olhos nos olhos. Agora abra seus ouvidos e escute o melhor de si mesmo, já está em você. Não precisa ir procurar fora. A rebeldia virá para os desacostumados a cuidar destes assuntos, mas então a obediência lhe apresentará outra grande amiga, amiga também do silêncio. Muito prazer em conhecer a senhora disciplina. 

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