Matriz Buenos Aires

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sábado, 29 de março de 2014

Na direção certa.

            Para um verdadeiro cristão, há um importante termômetro. Sim, uma medida que nos indica se estamos realmente no caminho correto, trilhando as pegadas do Senhor, ou criando nossas próprias e convenientes estradas. É comum dizermos que as coisas estão indo bem, quando os problemas se vão, nos sentimos fortalecidos e alegres, ou ainda quando a conta bancaria engorda junto com um bom emprego, sempre tudo acompanhado de uma boa saúde. São de fato coisas muito boas em si mesmas, principalmente na perspectiva dos tempos que passamos por aqui, nesta terra. Longe de mim querer desprezar qualquer conquista ou reduzir a importância de buscarmos uma situação o sempre melhor por aqui, entretanto, não podemos fazer destes sinais, sinais da graça divina ou da sua benção na vida de uma ou outra pessoa, pois assim, estaremos determinando quem é fiel a Deus pela conta bancaria ou coisas ainda muito piores. Menos ainda podemos afirmar que direcionamos nosso caminho para o Eterno a partir destas coisas estarem ou não em nossas vidas.
            Como dizia, há um bom termômetro. Uma bussola que nos aponta se estamos na direção o correta ou não. Talvez a melhor forma de responder esta pergunta é se estamos lutando por sermos homens e mulheres melhores, e quando digo melhores refiro-me a capacidade sempre maior de amar e se deixar amar. Se temos morrido para nossa mesquinhez  nosso egoísmo e prepotência, nossa vaidade doentia, em favor de compreender mais, cuidar melhor, perdoar e buscar perdão, dar sem esperar algum retorno, ser sem precisar de reconhecimento algum. Diante de sua leitura de cada um destes pontos, acredito que lhe venha um sentimento de grande dificuldade em realizar cada uma destas melhoras, cada um destes pontos de crescimento, e esta dificuldade, esta luta, inclusive esta batalha mais interior que nos indica estarmos ou não na direção o correta. Se não for difícil saiba que o caminho provavelmente está errado, não é por aí. E antes que meu amado leitor fique bravo comigo, desejo apenas trazer-lhe  algumas referências bíblicas, que espero não ser uma atentado a sua racionalidade, mas apena para facilitar-lhe a compreensão. Lembre-se de que não é o servo maior que o Senhor e que o caminho do Senhor passou por uma calvário para nos libertar, há também um calvário a ser trilhado por cada um de nós a fim de acolhermos devidamente a libertação em nossas vidas, pois a frase mais dita a cada pecador que Ele encontrou pelo caminho foi, vai e não peques mais, portanto, vamos?

            Se está difícil é porque está no caminho. Muito provavelmente é mesmo por aí, principalmente se quando olha para trás consegue enxergar bons frutos deixados pelo caminho, entenda, a semente plantada que germina o bom fruto só é devidamente regada pela lágrima bem derramada, sem esta boa água, sem este legítimo soro, a semente pode ficar pelo caminho. Assim, Ele fez primeiro para que a lição fosse dada, como dito no Evangelho de João, no capítulo onze: deixei-vos o exemplo para que façais vós o mesmo. Não reclame se o caminho está tão difícil, esta é uma grande garantia de que seus passos não são em vão.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Por que ruge o leão?

É no mínimo uma pergunta interessante. Pensar nela como uma filosofia animal é meramente diminuí-la, e muito menos desejo compreender ou desenvolver qualquer tipo de zoopsicologia. Não, jamais. Pretendo sim fazê-lo pensar um pouco comigo: por que ruge o leão? Por que rosna o cachorro? Escutei diversas explicações por estes dias: porque é um animal. Ou, porque está bravo ou coisa parecida. Nenhuma resposta errada, mas como estamos acostumados a levar tudo em nossas vidas, não com sensibilidade necessária, com a profundidade que me faz pensar.
Um animal rosna por se sentir ameaçado. Mediante sua fraqueza ou vulnerabilidade, o animal emite se som de ira a fim assustar a ameaça ou aquilo que acredita ser uma ameaça, muito embora, por vezes, não é de fato. Como quando um criador se aproximar para medicar seu animal, este não compreende a ação do homem e o ameaça com seus rosnados. Jamais devemos perder de vista que se trata de um animal, um ser irracional e mediante nossa inteligência, fraco. É a forma que ele tem para se defender, proteger-se daquilo cuja compreensão não possui. Não podemos fazer qualquer juízo do animal que age desta forma e, a esta altura, contando com a honestidade do meu leitor, você já deve já deve estar se questionando e não entende a direção que precisamos tomar, por isto, não vou mais me delongar a chegar ao ponto. Partindo de que compreendemos claramente a ação animal, portanto, pergunto-lhe: por que os seres humanos rosnam? Sim! Por que nós, seres inteligentes e racionais, rosnamos e latimos como feras ferozes diante de outros seres humanos, que talvez, e só talvez, estejam fazendo o mesmo? Assim, como os irracionais, qual fragilidade estamos querendo esconder? Que ameaça desejamos espantar de nossa presença? O que queremos esconder com nossa agressividade e nosso gritos ofensivos?
Parece-me deveras claro que fenômeno bastante semelhante acontece entre os seres humanos e os animais. Ambos, do seu jeito, ameaçam aquilo que julgam ser uma ameaça e com isto apresenta sua forma própria de assustar. Se os animais rosnam ou rugem, nós gritamos, fazemos muito barulho, quebramos e até batemos para afugentar aquilo que é minha fraqueza. Entretanto, só nós, pessoalmente, acreditamos que as pessoas não conhecem nossas fragilidades, que os outros não conhecem aquilo que carregamos tão arduamente dentro de nós, como um peso de ser aquilo que não se deseja, na mais profunda incapacidade de enxergar a grandeza que se é realmente. Normalmente, aquilo que tanto tentamos esconder se torna aquilo que obviamente é nossa fraqueza maior. Aquilo que você tanto deseja esconder, existe um grupo de pessoas que já conhecem muito bem e tanto mais intimas são de você, maior será o conhecimento. E talvez, e só talvez, conheçam bem melhor que você mesmo. Portanto, faça um bem a sua alma, pare de se esconder, acolha sua intimidade mais profunda e deixe ela lhe conduzir a sua grandeza e sua miséria, será o caminho mais honesto e mais libertador de sua vida.


quinta-feira, 20 de março de 2014

O que importa é amar?

                Hoje pela manhã me deparei mais uma vez com esta expressão: o que importa é amar. Mais uma vez minha mente respondeu: e é? Mas o que é amar? Em tempos muito estranhos, onde se perdeu a noção real das coisas e se relativizou por completo os conceitos e as experienciais. Onde os fatos são sujeitos a ideologias e não as ideologias aos fatos. Onde as pessoas destorcem as realidades para que melhor se adequem a seus desejos e interesses, pergunto com muita tranquilidade: o que é amar? Seria amar contrariar os limites fisiológicos de uma pessoa para que esta se adaptasse aos interesses de outrem, com ou sem consentimento? Amar seria viver dependente de tudo aquilo que fizesse sentir prazer ou suprir seus desejos, ainda que de outras pessoas? Não estaríamos falando de vícios ou desequilíbrios? Onde ficaria o respeito?

                Respeito – fundamento do amor. Onde não há respeito, haveria amor? Quando tratamos de respeito, focamos de imediato o respeito mutuo, pessoa por pessoa, ser respeitado e respeitar. Entretanto, antes de ir ao encontro do outro é necessário se encontrar consigo mesmo, reconhecer-se e se respeitar. Quando há respeito a si mesmo, estaremos bem mais próximos do amor próprio, e se não sou capaz de amar a mim mesmo, o que darei então aos outros? Amor? Não creio que uma pessoa possa dar amor a outro se de fato este amor não habita primeiro sua própria intimidade, sua própria autoimagem, quem ela é diante de si mesma. O que também caberia ao respeito. Cabe, portanto, mais algumas boas indagações: você se respeita? Respeita os limites do seu corpo e de sua alma? O que tem feito com você guarda o respeito? Se as respostas que vêm são não, talvez seja o momento de questionar o amor em sua vida. Fazemos muitas coisas que acreditamos ser por amor e no amor, mas se não encontramos respeito naquilo, muito menos encontraremos amor. Por outro lado, precisamos compreender que respeito não é fazer tudo aquilo que temos vontade, isto é egocentrismos. Quem passa a vida fazendo apenas aquilo que quer jamais deixará de ser criança, passará uma vida infantilizada e infantilizante – a expressão é minha. Nem tudo que queremos ou desejamos é bom ou proveitoso, e tão logo começamos a enfrentar a vida encontramos escolhas a serem feitas e decisões a serem tomadas. Escolher algo sempre será abrir mão de outro. Portanto, não é porque desejo que ter seria respeitar, pelo contrário, o respeito passa pelo bem, fazer o bem, construir e não destruir. Assim, se fazer aquilo que desejo é edificante, então há respeito naquele ato, mas, do contrário, se destrói, não haverá respeito, não haverá amor. Ou seria de desejos que vive o amor?

sexta-feira, 7 de março de 2014

Há um milagre... (parte I)

                Há um milagre todo especial. O retorno da morte à vida ganha o nome de ressurreição e o entendemos como fato milagroso. Obviamente a morte a que estamos nos referindo é a morte do corpo, os sinais vitais se vão, a respiração sessa e se apresenta um quadro irreversível dos sentidos fisiológicos humanos. Mas e quando morremos por dentro? Quando é a nossa alma que está morta, e não o nosso corpo, isto é menos morte? Algumas vezes questionei a meus alunos e a diversos públicos que tive o prazer de conviver, qual seria a dor mais forte, a da alma ou a do corpo, e jamais obtive qualquer resposta contrária a esta: a da alma. Ora, se a dor mais contundente é a da alma, por que então não seria morte o falecimento da alma? Bem, não entrarei no mérito da questão científica, mas sei que cada pessoa que me ler agora e que já passou por uma tristeza profunda ou que conheceu males da alma, como a depressão, por exemplo, irá entender muito bem a que estou me referindo, pois perder qualquer razão de existir e direcionar sua vida para o nada é de fato morrer sem jamais deixar de respirar. Toda e qualquer chance de se sair desta situação é recebida não menos como uma ressurreição. E não seria?

                Olhar os olhos humanos negros e sem brilho é de fato olhar a morte. Pessoas que passam a vida mendigando atenção e afeto, mas que de fato aspiram o amor, se subjugando e se jogando no lixo, permitindo toda e qualquer condição para receber alguma sobrevida a seu vazio mais profundo. Perder a luz do sorriso, ele não vem mais aos lábios e quando parece estar lá, realmente é apenas o disfarce para receber uma miserável moeda de atenção, ou simplesmente o desejo se sentir vivo. Vivo? Quando se passa a ser pelo que outros pensam ou acham, vende-se a dignidade para receber um afago ou a ilusão do cuidado, sendo de fato a troca pelo gozo fugaz que nos lança no terreno das ilusões e devaneios. Criamos um mundo de fantasias e quando nos deparamos com a realidade, já não estamos mais em nós mesmos, já não vivemos uma vida, somos o personagem, objeto de diversão, para aqueles que acreditávamos nos querer bem, descobrindo que somos, na realidade, um bem na prateleira de seus objetos de uso pessoal. E não adianta culpá-los por isto, pois somos nós mesmos que damos a infeliz permissão para que façam de nós aquilo que querem, quando querem e como querem. Perdemos qualquer senso de sobrevivência, não é isto uma forma de vender a alma? Vazio, solidão, tristeza... Desesperança. O corpo, ainda que respirando, recebe as consequências disto tudo, são chamadas de doenças psicossomáticas, parece um comando ao corpo de que a vida já não é tão bem vinda. Se a alma indica sua morte, estaria dizendo ao corpo que ele não tem mais valor? Ou, a alma, em doença grave, indica ao corpo sua debilidade? Parece-me que os fatos caminham nesta direção, no entanto, somos impedidos de uma conclusão mais cartesiana. Porém, não temo em errar, pois no momento em que chegamos a este nível, conclui-se uma morte interior que pede por uma ressurreição, ares que inflem os pulmões da alma, sangue novo ao coração da existência. Não estamos falando de um milagre? O milagre que retorna a vida total do ser, pois não é a alma maior que o corpo? Então posso dizer que tenho passado a vida vendo grandes e maravilhosos milagres. A beleza retomar o rosto desfigurado pela máscara das ilusões.